A BRUXA
A Bruna tinha os cabelos eriçados, duas verrugas no nariz e aquela mania de se vestir de preto. Além disso andava sempre de vassoura na mão, com a mania das limpezas.
- És bruxa ! És bruxa ! És bruxa ! – troçavam os miúdos.
Pois, se parecia, alguma coisa havia de ganhar com isso. No dia 30 de Outubro, dia das Bruxas, arranjou-se mesmo a rigor e apresentou-se no concurso para Miss Bruxa. Claro que ganhou o primeiro prémio.
Foi para casa e, como estava desempregada, surgiu-lhe uma ideia. Escreveu numa tábua carunchosa, a tinta roxa:
Bruxa premiada dá consultas.
Faz descontos especiais no Dia das Bruxas.
Ora por lá passou um rapaz que andava muito apoquentado. Bateu à porta, que se abriu, rangendo, e tropeçou em sete gatos.
- O que o traz por cá ? – perguntou Bruna.
- É o mau cheiro que tenho nos pés. Quando me aproximo, as pessoas fogem a toda a velocidade… Já procurei médicos, curandeiros, engoli comprimidos, enfiei supositórios, besuntei-me com pomadas mas nada me cura…
- Pois então descalce-se - disse a “ bruxa”, apertando o nariz com uma mola da roupa.
E que viu ela ? Uns pés tão sujos, tão cheios de chulé como não devia haver outros no mundo.
- Já lhe trato da saúde!
Pôs três barras de sabão a derreter dentro dum caldeirão, juntou sumo de limão, flores de alecrim e obrigou o rapaz mergulhar nessa mistela as patorras imundas durante três horas. Depois, com a vassoura, raspou tão bem toda a porcaria que de lá saíram uns delicados pezinhos brancos, sobre os quais verteu sete jarros de água do poço.
- Agora tem de continuar o tratamento em casa, todos os dias. Basta lavar à torneira, com sabonete! E compre sapatos novos, que os velhos estão contaminados.
Tornou-se famosa. À sua porta alinhavam-se bichas intermináveis de clientes.
Com o dinheiro do prémio e das consultas, tirou um curso de magia pela internet. Comprou um velho castelo assombrado, setenta vampiros para o guardarem, setenta corujas para lhe fornecerem ovos, setenta osgas para lhe cuidarem do jardim.
- É bruxa! É bruxa! É bruxa! – diziam, cada vez mais convictos, os miúdos.
Mas acham que ela se ralava? Ria-se, feliz, e oferecia-lhes logo caramelos de baba de sapo. Era remédio santo para eles darem corda aos sapatinhos.
Luísa Ducla Soares
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