Que as águias (das nossas escolas) nunca percam as asas...


Um homem encontrou um ovo de águia
e colocou-o debaixo da galinha
que chocava os seus ovos no quintal.
Nasceu uma aguiazinha com os pintos
E com eles cresceu normalmente.
A águia fazia sempre
o mesmo que faziam os pintainhos,
convencida de que era igual a eles.
Bicava o chão à procura de insectos
e piava como faziam os pintos;
e como eles, também, batia as asas,
conseguindo voar um metro ou dois
porque, afinal de contas, é só isso
que um frango pode voar, não é verdade?
Passaram anos e a águia ficou velha…
Certo dia, no céu azul, a riscar o espaço,
ela viu uma ave majestosa,
planando, no infinito, graciosa,
levada, docemente, pelo vento.
A águia do chão olhou-a com respeito
e, logo, perguntou a um seu amigo:
“Que tipo de ave é aquela que lá vai?».
“É uma águia! É rainha, diz-lhe o amigo;
mas é bom não olhar muito para ela
pois nós somos de raça diferente,
simples frangos do chão e nada mais”.
Daí por diante, a pobre da águia
nunca mais pensou nisso até morrer,
convencida de ser simplesmente galinha.
Anthony de Mello, In O canto do pássaro

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